Eu
estava no aeroporto internacional de Baltimore-Washington, deitado em um
pequeno banco para passar a noite, pois o meu vôo New York-Accra havia sido
transferido para Baltimore-Accra. O vôo sairia no dia seguinte com mais de 12
horas de atraso. Deitei ali e dormi.
Dormindo,
sonhei que estava em uma sala, não muito grande, e que existia uma divisória da
altura de mais ou menos um metro que separava uma massa de construção
(cimento-areia-cal), já preparada, de uma grande quantidade de areia. Uma voz
me disse: - Mexa a massa.
Logo
vi na minha frente um carrinho de pedreiro com a massa preparada, mas
endurecida, na qual uma enxada ali inserida estava. Eu falei: - Isso vai ser
muito difícil, a massa está dura!
A
voz me disse novamente: - Mexa a massa.
Pela
insistência, peguei no cabo da enxada e quando a puxei, a massa amoleceu e sua
porção líquida espirrou por toda minha roupa. Ela estava pronta para ser usada
novamente. Acordei ali naquele banco do aeroporto, na madrugada do dia 14 de
abril de 2002, aguardando o meu vôo para Gana, no oeste Africano.
Estando
lá na segunda maior cidade de Gana chamada Kumasi, conhecendo-a em uma
manhã muito agradável, compartilhei com o pastor Patrick Agyeman Gyebi, meu
anfitrião, que as igrejas locais poderiam se unir e iniciar uma clínica, um
pequeno hospital cristão no centro-norte de Gana, ali mesmo em Kumasi. "O
oeste Africano vai ficar sabendo e vão saber do amor de Cristo por esse
povo", disse a ele. A sensação de que isso poderia ser concretizado era
tão grande que tomou os meus pensamentos por todo aquele dia.
Antes de ir a Gana, eu tinha desafiado o Pr. Patrick a realizarmos na sua igreja, Assemblies of God, um dia para atendimento de pessoas doentes e tudo tinha sido programado para a quinta-feira daquela minha primeira semana lá, já
que a igreja local tinha cumprido o compromisso de comprar os medicamentos
necessários para doar à população. A coragem para o desafio certamente brotou da fé instilada nos nossos corações pelo dom de Deus. Uma médica (clínica geral), alguns
estudantes de enfermagem, todos cristãos, juntamente comigo, participaram da grande
tarefa; um desafio (ver figuras 1, 2, 3 e 4).
Figura 1. Alguns profissionais
de saúde cristãos (assistentes à frente, médica e enfermeiro mais ao fundo), dirigindo-se
para o dia de atendimento gratuito à população de Kumasi, Gana.
Figura 2. Pacientes e
profissionais de saúde (guarda-pó branco) se dirigindo para a igreja. A
comunidade toda ao redor daquela região ficou sabendo do atendimento gratuito.
Figura 3. Auxiliares de
enfermagem cristãos, dentro da igreja, selecionando as pessoas de acordo com as
suas necessidades de atendimento médico.
Lá fiquei sabendo que dali de Kumasi, no centro do país, até a divisa com a Gâmbia, ao
norte, não existia nenhum hospital tampouco nenhuma clínica
médico-odontológica.
Tive
oportunidade de atender algumas mulheres mulçumanas, pois um lado da cidade é
habitado somente por mulçumanos (ver figura 3). E por que aquelas senhoras
estavam ali? Acredito, hoje, que Deus estava me revelando a necessidade de
mostrar o amor de Jesus Cristo, não apenas em palavras, mas com atitudes a um
povo que Ele também ama.
Pessoas reunidas dentro da igreja e à porta, esperando o atendimento. Pequenos
consultórios foram improvisados para dividir a tarefa entre os profissionais de
saúde.
A
estada em Kumasi foi curta. Voltei para Dallas, TX e à vida agitada no Baylor
University Medical Center.
Não
faz muito que sonhei outro sonho. Estava à beira de um muro e pulei, mas quando
olhei para baixo percebi que era muito alto e o impacto seria desastroso. Mas,
para o meu espanto quando dei conta estava com os pés sobre o solo firme e
alguns meninos me olhavam. Eu disse a um deles: - Não diga a ninguém que estou
aqui! E ele me respondeu: - Mas você precisa entrar aqui para ver a situação,
apontando para um pequeno prédio de uns dois andares e com largas vidraças, bem
na nossa frente.
Quando
entrei, vi vários jovens, algumas crianças e alguns adultos todos deitados em
beliches, com cobertores bem finos, cinzas escuros, e essas pessoas suavam
muito. Alguns estavam muito magros e outros até em estágio terminal. Pensei
comigo "alguns estão com AIDS". Comentei rapidamente: - Temos que
removê-los daqui, pedindo que aqueles meninos me ajudassem a transportá-los em uma
espécie de Kombi branca, que estava à beira do prédio.
Neste
último final de semana, estive orando, lendo a Bíblia e perguntando a Deus como
e quando seria usado, pois desde minha adolescência sei do chamado de Deus para
minha vida. Então, o desejo de iniciar, "construir", um hospital em
Gana voltou claro ao meu coração. Senti de enviar um email para o Pr. Patrick de
Kumasi e pedir para que ele entrasse em contato com os pastores de várias
denominações e também com Mr. Kofi, um homem de negócios, cristão, que lá conheci por ter
ficado hospedado na sua casa, para orarem sobre o assunto. Também senti no
coração de compartilhar o mesmo motivo com o Pr. Timothy Halls, diretor da PMI Povos
Mulçumanos Internacional - nos EUA. O sonho inicia!
Oro
para que Deus mova os corações na direção que Ele quer. Sei que tenho um
coração que sofre pela África e Índia; povos que não os conheço plenamente,
povo que não é o meu povo, mas que Deus me chama para amar e servir.
É
certo que o propósito e chamado para construir um hospital não têm um fim em si
próprio, mas sim um meio para levar a palavra de Cristo Jesus, a sua Salvação,
àqueles que não o conhecem. E o desejo é iniciar esse sonho em um lugar novo e
que muito necessita. Como disse o apóstolo Paulo "Para anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós, e
não em campo de outrem, para nos não gloriarmos no que estava já
preparado" (II Cor. 10:16).
E
se vamos nos gloriar dos nossos sonhos e feitos, gloriemo-nos no Senhor para
fazer o seu nome conhecido sobre toda a terra. Amém.
Éber Stevão DDS, PhD
Dallas, TX 11/11/2002