À luz do seu contraste entre a vida temporal e a vida eterna, Warren agora prossegue numa maior elaboração da vida temporal. “O modo de você definir a vida determina o seu destino.”, ele diz (p. 41). Com isto, ele reforça seu ponto de vista de que a criatura pode, de alguma forma, determinar a realidade para o Criador. Este já é, a esta altura, um tema bem estabelecido no pensamento de Warren. Em sua forma de pensar, portanto, ele tenta responder a questão de como a criatura deveria definir a realidade da vida humana. Ele sugere que isto pode ser melhor compreendido em termos de uma metáfora. Depois de pesquisar várias metáforas “falhas”, ele então passa a considerar metáforas “bíblicas”, as quais, ele argumenta, são uma escolha melhor. Estas são apresentadas em termos de “a visão que Deus tem da vida”, que “a Bíblia oferece” (p. 42).
É bastante significativo que Warreen apele para Romanos 12:23 como a base de sua abordagem. Ele declara confiantemente “A Bíblia diz,” e então nos apresenta o seguinte: “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus” (p. 42). Isto não é a Bíblia. Esta é uma paráfrase chamada “Bíblia na Linguagem de Hoje”. Embora afirme ser uma tradução da Bíblia, é de fato uma obra produzida com base na teoria da “equivalência dinâmica”, proposta por Eugene Nida. A preocupação principal da “equivalência dinâmica” é exprimir o pensamento do original, porém sem usar necessariamente as palavras originais. Esta interpretação moderna “dinâmica” de Romanos 12:2 é contrária a todas as traduções autênticas das Escrituras que buscam o mais alto grau de exatidão vis-à-vis o que está realmente sendo dito nos manuscritos originais. Por exemplo, na versão Almeida Revista e Corrigida este texto está assim: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” O leitor notará imediatamente a dramática diferença entre “transformai-vos” e “deixem que Deus os transforme”. A segunda frase parece mais nobre, porque credita a Deus o poder transformador, mas na realidade a paráfrase tomou a ordem direta “transformai-vos” e a transformou em um conselho de que deveríamos nos prover dos conhecimentos de Deus.
É extremamente irônico que este texto em particular fosse alterado desta forma. Em seu conteúdo original, este texto ordenava aos crentes em Roma que evitassem fazer exatamente o que os autores das paráfrases, e Warren depois deles, têm feito. “Não vos conformeis com este mundo”. Não vos conformeis com o ideal romano de Homem, que determina seu próprio destino, nem com o Panteão da idolatria romana. O Criador define e determina todas as coisas; a criatura não pode sequer respirar, fora da soberania sustentadora dAquele “com quem temos de tratar” (Hebreus 4:13), por quem “todas as coisas subsistem” (Colossenses 1:17). A ordem do Criador para a criatura é clara: “transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”. Arrependei-vos do ideal romano e do Panteão romano de “deuses”. “Deixem que Deus os transforme” não transforma coisa alguma. Esta é exatamente a mensagem que os humanistas romanos teriam se regozijado em ouvir. “Deveras”, eles teriam dito, “vamos subir ao Panteão e dar permissão aos ‘deuses’ para que nos dêem algo de sua sabedoria superior.” Se ao homem é concedida alguma medida de autonomia, e “deus” é visto como dependente em alguma medida da vontade e permissão do homem, então não importa em nada o que o que outros jargões aparentemente nobres possam acrescentar. “Deixem que Deus os transforme” afirma uma idéia pagã tanto do homem quanto de “deus”. A abordagem de Warren se encaixa como uma luva. No Apêndice 3 Warren oferece uma exaltada defesa acerca das razões pela quais ele incorpora textos de quinze diferentes versões da Bíblia. Mas é muito difícil para um estudante sério da Bíblia evitar a sensação de que o que realmente está acontecendo aqui é um esforço para explorar o jargão moderno de cada paráfrase livre – quanto mais livre melhor – de forma a encontrar exatamente a fraseologia que se adapte ao ponto que Warren quer defender, de forma que a expressão cheia de autoridade “A Bíblia diz” possa ser, de alguma forma, anexado a ele. Romanos 12:2 da Bíblia na Linguagem de Hoje é um dramático exemplo disto.
Tendo citado a paráfrase mencionada acima, ele então afirma, “A Bíblia oferece três metáforas que nos ensinam a visão que Deus tem da vida” (p. 42). Será que Paulo tomou a Bíblia e a levou ao Panteão dos “deuses” e a “ofereceu” como um ponto de vista alternativo? Certamente que não! Se o cristianismo é considerado como um ponto de vista alternativo, então não é mais o cristianismo que está sendo considerado. Deus não tem uma “visão da vida”; Deus criou e define a vida. Um ponto de vista é gerado a partir de uma superioridade espacial / temporal. O homem, a criatura é limitada pela superioridade espacial / temporal; Deus, o Criador, não é. Os homens tem vários pontos de vista; contudo, é uma desonra a Deus reduzir a Sua Palavra a um ponto de vista. A Palavra de Deus não é um conselho de um especialista que podemos desejar considerar; ela é a revelação eterna e cheia de autoridade que define o nosso ser e a nossa tarefa. A visão que um indivíduo tem da vida ou se alinha com a verdade do cristianismo ou não.
Contudo, Warren prossegue com sua abordagem de que Deus nos “oferece” “visão que Deus tem da vida”, consistindo de três metáforas. De acordo com esta visão, a vida é um teste, uma incumbência e uma atribuição temporária. As primeiras duas metáforas são consideradas no presente capítulo e a terceira é reservada para o próximo capítulo. Teste e incumbência são princípios bíblicos válidos. Mas o verdadeiro significado destas duas expressões é distorcido ao interpretá-las fora do contexto bíblico da Criação, do Pecado e da Redenção e ao proclamá-las como metáforas que caracterizam cada momento de nossa existência. De acordo com a idéia de Warren sobre a metáfora do teste, Deus está brincando de gato e rato conosco, deliberadamente colocando todos os tipos de obstáculos em nosso caminho e então observando como lidamos com eles. “Você está sempre sendo testado. Deus constantemente observa sua reação às pessoas, problemas, sucesso, conflitos, enfermidades, decepções e até mesmo em relação ao clima!” (p. 43) Warren encerra este debate sobre o teste citando Tiago 1:12, “Felizes são aqueles que perseveram quando são testados. Depois de serem aprovados, eles receberão a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam.” Contudo, Warren deixa de levar em consideração também o verso imediatamente seguinte, Tiago 1:13, “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” Certamente, existem várias ocasiões em que a Escritura relata que Deus colocou Seu povo à prova. Contudo, isto não nos dá garantias para caracterizar a totalidade da vida como um teste contínuo. Muitas das coisas que Warren considera como teste de Deus são, na realidade, conseqüências e tentações do mal. Warren nunca chegou a um consenso com relação ao pecado e ao mal em seu tratado. Aqui, mais uma vez, estava a oportunidade para fazer isto, mas sua visão de que “toda a vida é um teste” leva diretamente a uma distorção da Queda do homem no pecado. Adão e Eva no Jardim do Éden caíram de seu estado original de bondade e perfeição da Criação para o estado de Pecado, um estado de maldade e corrupção. E ainda assim Warren trata o relato de Adão e Eva como apenas mais um exemplo de um teste, ao lado de todos os outros testes. Em sua visão, Adão e Eva simplesmente falharam em um teste. Ele não nos fornece qualquer pista de que com a sua queda veio a corrupção da natureza humana e, de fato, de toda a realidade criada. Em termos de sua tese, as nossas falhas não tem suas raízes na falha de nossos Primeiros Pais, mas simplesmente são paralelas à falha deles.
Sua discussão sobre a metáfora da incumbência é baseada no senso comum evangélico de que Deus possui tudo e, portanto, eu não possuo coisa alguma. Ron Sider, em seu livro Rich Christians in an Age of Hunger (Cristãos Abastados em uma Era de Fome) debateu este ergumento até chegar ao pleno socialismo, que é, na verdade, o resultado mais consistente com este ponto de vista. Porém, este senso comum deixa de lado completamente a “distinção Criador / criatura” e, portanto, lança a propriedade de Deus como Criador e a nossa propriedade como criaturas em uma correlação uma com a outra. Sem uma “distinção Criador / criatura” apropriada, é necessário decidir, no caso de qualquer coisa em particular, se o homem a possui ou se Deus a possui. Tal perspectiva paralisa completamente todo pensamento e atividade econômica. Esta é um senso comum simplista que evita – e até mesmo impede – toda contemplação piedosa da dispensação da pobreza entre os homens. Um exemplo disto aparece no discurso de Warren. Ele pergunta ao seu leitor, “A forma de você administrar o seu dinheiro está impedindo Deus de fazer mais em sua vida?” (p. 46). Primeiro, nos perguntamos como Warren pode se referir ao dinheiro como “o seu dinheiro” quando já havia declarado que Deus possui tudo e nós não possuímos coisa alguma. É impressionante como os evangélicos afirmam de forma convincente que não possuímos coisa alguma e então, em seguida falarem sobre o que devemos fazer com a nossa propriedade! Em seguida notamos que a preocupação está concentrada em se as nossos atos podem evitar que Deus faça mais em nossas vidas. Uma pergunta muito mais produtiva para um cristão considerar seria “A maneira como você administra o seu dinheiro está em conformidade com a Lei de Deus ou é contrária a ela?” Porém, Warren não elaborou uma Doutrina do Pecado que o capacitaria a colocar o assunto nesses termos.
Tampouco ele defendeu de maneira consistente a Deus como sendo o Criador Todo-Poderoso e o Homem como a criatura finita. Desta forma, ele não tem uma linha de pensamento para considerar o assunto em outros termos que não aqueles que colocam o suposto autônomo Homem como potencialmente impedindo um Deus finito de fazer tudo o que Ele poderia. Neste ponto de vista o Homem tem o poder e a iniciativa para apropriar-se dos conhecimentos e recursos de Deus, e portanto, o Homem também deve ter o poder de impedir Deus de agir. A preocupação é se estamos recebendo todo o benefício que potencialmente poderíamos receber do grande poder e conhecimento de Deus, em vez de ser uma preocupação se o padrão da justiça de Deus está sendo mantido. Em contraste com isto, o conselho financeiro bíblico apresenta a Lei de Deus e exige de todos os homens obediência a ela. A preocupação principal do conselho bíblico não é se o indivíduo está experimentando todo o potencial de um recurso que gostamos de chamar de “Deus”. A preocupação principal é se os homens, criados à imagem do Criador, estão sendo fiel à Sua Lei na busca de Sua glória. Certamente, tal busca envolve seu amor uns para com os outros. Mas mesmo o “amor” não pode ser conhecido independentemente de Deus e da Sua lei (Romanos 13:10). Estas questões entre o Cristianismo e o Humanismo podem tornar-se muito complexas, mas o ponto central de cada questão é uma distinção muito simples entre uma perspectiva da realidade e da vida centralizada em Deus ou centralizada no homem.
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Fonte: http://purposejourney.blogspot.com
Traduzido por Levi de Paula Tavares Tavares em agosto/2008, mediante autorização expressa do autor.
Escrito aqui e publicado por Éber Stevão