Uma Análise do Livro "Uma Vida Com Propósitos" de Rick Warren
Dia dois - Você Não É Um Acidente Por Scott Mooney
Warren mais uma vez sustenta a sua promessa, iniciando o segundo dia com sabedoria bíblica no que se refere às origens do ser humano. Nós somos, ele garante, criados por Deus, que atuou em Sua infinita soberania, para controlar todos os fatores envolvidos na criação, nascimento, vida e morte de cada pessoa. Ele é enfático em declarar o ensinamento Bíblico, ainda que pouco popular, de que "O propósito de Deus levou em conta o erro humano e até mesmo o pecado." (p.23). Aqui vemos o aparecimento da idéia do pecado, o que foi sofrivelmente posto de lado no Dia Um.
Waren se alonga nos detalhes a respeito da Doutrina da Criação, mas parece satisfeito ao supor que seus leitores não precisam de explicações adicionais sobre o pecado. Contudo, já vimos que a elaboração da Doutrina do Pecado - de modo consciente - foi desesperadamente necessária no Dia Um. Hoje ela é mencionada, mas faz-se necessário muito mais do que uma simples menção para compensar as deficiências já notadas. Vejamos se as renovadas promessas hão de frutificar.
Warren declara que o homem era o ponto alto nos motivos criativos de Deus. É dito que a Terra foi projetada e criada tendo o homem em mente. Isto está correto, em certo sentido. Mas o leitor já começa a se perguntar se isto compromete a grandeza daquela poderosa premissa fundamental, "A questão não é você." (p.17). O leitor fica até mais desconfiado, e emerge um padrão inquietante de promessa seguida de perto por um desapontamento, conforme deparamos com os demais argumentos de Warren. Ele cita o cientista Dr. Michael Denton, que disse "o universo como um todo foi especialmente criado tendo a vida e a humanidade como principal objetivo e propósito; um conjunto no qual todas as facetas da realidade têm seu significado e explicação nesse fato fundamental"(p.24). Warren então em seguida adiciona sua própria declaração "A Bíblia disse a mesma coisa milhares de anos atrás." (p.24). Ele cita Isaias 45:18 para sustentar sua visão: "Ele é Deus; que moldou a terra... não a criou para estar vazia, mas a formou para ser habitada". Contudo, a afirmação que Deus pretendesse que a Terra fosse habitada por pessoas, dificilmente é o mesmo que se dizer "todas as facetas da realidade têm seu significado e explicação" no "fato central" da vida humana. A declaração do Dr. Denton é clara o bastante, mas está longe de ser claro se sua declaração conclui a mesma coisa que a Bíblia tem dito por milhares de anos. Devemos dar a este ponto escrutínio muito maior do que Warren permitiu.
Parece que Warren salienta este ponto de tal maneira que idéias de significado surgem somente dos cristãos, e que que toda a descrença é caracterizada por falta de significado e desespero. Mas na realidade isso não é exato. Muitos descrentes são guiados por um forte senso de sentido e propósito, e muitos cristão são atormentados pelo desespero. As idéias não cristãs de significado e propósito são falsas, e muitos cristãos erroneamente se entregam a sentimentos de desespero. Simplesmente não é verdade que uma profissão de fé cristã automaticamente resulta em ardente senso de significado e propósito, nem é verdade que a descrença sempre resulte em falta de sentido e desespero. O Dr. Denton pode ser um ótimo cristão, senhores, mas o que ele expressou, conforme citado por Warren, não é uma idéia cristã de significado e propósito. Sua visão tem tudo em comum com Aristóteles, porém nada em comum com as Escrituras. Os antigos gregos procuravam um princípio conclusivo que explicaria e unificaria todas as coisas, e assumiram que a mente humana poderia determinar este princípio. Eles falavam muito sobre "deus", mas seu conceito foi qualquer coisa exceto a idéia bíblica e cristã de um Criador Soberano, Não-Criado, sobre toda a realidade. Apesar de concebidos de diversas formas, seus deuses sempre eram relacionados aos homens, como nós, sujeitos aos conceitos abstratos de verdade e racionalidade. Desse modo, "deus" não teria autoridade para determinar a verdade ou o significado do homem. A idéia grega era precisamente aquela expressa pelo Dr. Denton: a vida humana foi o objetivo e propósito fundamental da realidade, a qual tem seu significado e explicação neste fato central. A filosofia antiga grega foi a epítome do Humanismo. Humanismo, em sua raíz, é simplesmente o esforço para encontrar a explicação e significado da vida e existência sem qualquer conhecimento do Criador. Esta é precisamente a "filosofia" sobre a qual Paulo nos alertou em Colossenses 2:8.
A idéia cristã de significado é exatamente oposta a esta. A idéia cristã é que, a menos que se comece a contemplação de vida e existência com reconhecimento do Criador, não se pode alcançar a verdade. A existência é explicada somente, e apenas somente pelo fato da criação. A existência tem o seu significado somente porque é isto que o Criador determinou que significasse. Procurar explicação e significado sem reconhecimento do Criador não apenas é um descaminho - como também é pecado. É pecado porque falhar ao reconhecer Deus conduz à negação de Deus (ver, por exemplo, Romanos 1:18-32). Não se pode desafiar a indagação não-cristã de significado sem uma inequívoca declaração de pecaminosidade desta indagação. Ao relegar a Doutrina do Pecado a uma mera menção, até este ponto de seu tratado, Warren impediu qualquer avaliação correta das idéias de significado cristãs versus não-cristãs. Não é de se surpreender, portanto, que ele veria uma equivalência entre a declaração do Dr. Denton, que a vida humana é o "fato central" da existência, e a mensagem da Bíblia. Na realidade a mensagem da bíblia é que a Criação é o fato central da existência, e a suposição do homem que sua própria vida é o fato central, que dá significado e explicação a toda existência, é um erro que emerge diretamente de sua negação pecaminosa de Deus.
Warren parecia indicar a idéia cristã de significado na abertura deste capítulo com sua descrição inspiradora da oniciência e onipotência do Soberano Criador. Mas as palavras podem significar muitas coisas diferentes. Faz-se necessária a elaboração do sistema maior aonde palavras são proferidas com o objetivo de conhecer verdadeira e completamente com qual objetivo foram empregadas. Conforme prosseguimos pelo Dia Dois fica difícil manter a presunção de que Warren se refere ao Deus da Bíblia, ao Deus do Cristianismo histórico e bíblico, ao Deus de nossos pais. Na melhor das hipóteses, poderíamos até dizer que Warren interpretou mal as palavras do Dr. Denton. Contudo, quando chegamos às observações de Warren sobre significado e realidade, constatamos que quanto mais ele elabora sua visão, mais sua visão diverge da ortodoxia cristã. Ele declara "Se não houvesse um Deus, seríamos todos 'acidentes', o resultado de um fato extraordinariamente aleatório no universo" (p.25). A partir deste ponto, podemos ver que Warren tenta acolher uma hipótese de que Deus não exista. A verdadeira sabedoria Cristã rejeita isto como uma hipótese totalmente indigna. Esta é a hipótese dos néscios (Salmos 10:4, 14:1, 53:1, Romanos 1:22, I Corintios 1:20). Já vimos ontem que Warren estava disposto a falar da existência do homem sem relação com o Criador. Se isto fosse possível, então o homem possivelmente poderia existir com ou sem a existência de um Criador. Persistindo na tentativa de considerar que tipo de realidade nós teríamos se não houvesse Criador, Warren está disposto a colocar a hipótese de que neste caso, de algum modo, haveria um "universo", e que um acaso aleatório operando neste "universo" poderia de algum modo produzir o homem. Warren está disposto a colocar a hipótese de que o homem ainda poderia existir se não houvesse Deus, mas neste caso sua existência certamente não teria significado. Este desejo de considerar a simples existência de algo separadamente em relação a seu significado é a essência da abordagem Humanística para a realidade: "Deus" é declarado após o fato, como modo de prover algum significado a algo que hipoteticamente poderia existir sem esse "deus". Em forte contraste a isso, a idéia cristã de realidade une existência e significado na Doutrina da Criação. Nada pode existir independentemente de Deus; existência tem esse significado pois é a criação de Deus.
O Humanista fica satisfeito ao falar de "deus" em conexão à questão do significado da vida, desde que a existência da vida esteja estabelecida de modo completamente independente de existir ou não um "deus". Não é surpreendente, então, lermos Warren afirmando: "Descobrimos esse significado e propósito somente quando tomamos a Deus como ponto de referência de nossa vida" (p.25). É bom e correto falar de Deus como "ponto de referência" para uma interpretação correta de toda a realidade. Mas a idéia cristã disso é que Deus invariavelmente é este ponto de referência porque a existência é invariavelmente Sua criação. A verdade disso, com o significado que isto provê, nos é revelado. A distorção Humanista é que "deus" poderia executar sua função ou não, dependendo da preferência autônoma do homem, e se o "homem autônomo" escolhe fazer de "deus" este ponto de referência, então ele poderia a partir daí "descobrir" significado. Devido a poder, sabedoria e conhecimento superiores, o Humanista refere-se a "deus", de modo que ele possa apelar para tal "deus" como evidência do significado de coisas que existam independentemente de "deus". Mas finalmente o Humanista deixa por conta de sua própria mente o arbítrio final destas coisas. Se somos nós quem "fazemos de Deus o ponto de referência para nossas vidas", então não é mais Deus quem tem sido o ponto referencial de nossas vidas. A epistemologia cristã defende que o pecador deve se arrepender e confessar que a não ser que exista o Criador, nada existe, e a não ser que o Criador exaustivamente conheça sua criação, nada tem significado, e que a busca de significado que não começa curvando-se perante Deus é uma busca pecaminosa. Mas estas coisas não podem ser sustentadas sem uma firme e clara Doutrina do Pecado, a qual, até este ponto, Warren ainda não forneceu.
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Fonte: http://purposejourney.blogspot.com/
Traduzido por Renato Tavares em maio/2008, mediante autorização expressa do autor.
Escrito aqui e publicado por Éber Stevão
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