sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

AS CORRENTES DO SUL - PROFA. MARIA JOSÉ DE LIMA STEVÃO

Salmo 126

Professora Maria José de Lima Stevão

"Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres. Traze-nos, outra vez, ó Senhor, do cativeiro, como as correntes das águas no sul. Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos."

O salmista faz uma comparação entre as alegrias surpreendentes que às vezes enchem os nossos corações e as correntes das águas que formam, periodicamente, os rios ao Sul de Judá. Uma região desértica, de onde vem o nome Neguev, traduzido por Neguebe, que significa seco. É esse lugar, 60% de terra improdutiva, território extremamente seco, que a ONU deu a Israel. Fica no extremo sul da Palestina, ao sul de Hebron, e a sudoeste do Mar Morto.  Nenhum lugar poderia ser mais significativo para Israel, porque foi justamente nesse deserto onde peregrinou Abraão e encontrou o Todo poderoso. Onde Elias buscou renovar suas forças no Senhor, diante das ameaças de Jezabel. I Re 19:1 a 18

Quando chove em abundância, a chamada chuva serôdia cai nas partes mais altas das montanhas de Judá. As águas escorrem pelo deserto, e a terra árida se transforma num rio, que produz vida, são as torrentes do Neguebe.  E então, quando, pela evaporação, o rio desaparece, o deserto vira um manancial das mais belas flores, que só lá são encontradas.

Águas correm pela Bíblia toda, desde o segundo versículo do primeiro capítulo de Gênesis: “E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, até o último capítulo de Apocalipse, versículo 17: “E quem quiser, tome de graça da água da vida”.

O Salmo 126 faz parte de uma coleção de 15 Salmos que eram cantados nas peregrinações do povo de Israel. Também são chamados de Cânticos dos Degraus ou Cânticos de Romagem. Vai do 120 ao 134.  Quatro são de Davi, o 127 consta como autor o rei Salomão, os demais são anônimos. O Salmo 126 deve ser de alguém que experimentou a volta do cativeiro. 

As mensagens destes Salmos orientam os crentes a buscar e louvar ao Senhor, sejam quais forem as circunstâncias. Eles mostram que nada deve interferir na confiança dos justos.

Os Cânticos de Romagem são uma progressão. O Salmo 120 começa com um adorador fiel numa terra distante, habitando entre os estrangeiros, longe do Monte do Senhor.

Quando se aproximavam do Monte Sião, da cidade de Jerusalém, da casa do Senhor, certamente aumentavam sua adoração, pois o Salmo 134 termina com adoração.

Os versos 5 e 6 do Salmo 126 falam da habilidade que Deus tem de restaurar a vida. Ele transforma nossas lágrimas em alegria e elas podem regar as sementes, que darão uma colheita abundante. É um consolo para os que choram!

O primeiro versículo do Salmo 126 fala literalmente da volta para Sião do povo judeu, que estivera preso na Babilônia. O autor está se recordando. Os verbos estão no passado:  Quando o Senhor trouxe do cativeiro, os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham.

No entanto o versículo 4 é uma súplica, com o verbo no presente: Traze-nos, outra vez, ó Senhor, do cativeiro.

Este versículo é de tanta profundidade que nos deixa quase desapercebidos do seu verdadeiro significado. A primeira parte do versículo é uma metáfora:  Traze-nos outra vez, ou seja, faze-nos viver outra vez aquele tempo feliz quando estávamos regressando para a pátria, com o coração cheio de alegria e esperança, quando a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico.

Nós já saímos do cativeiro! Não podemos viver como se ainda estivéssemos nele: subjugados, amargurados, angustiados. Então, traze-nos outra vez, Senhor, como as correntes das águas no sul.

As chuvas pararam, tudo está seco ao redor, mas logo as águas voltarão mais uma vez, transbordarão e vivificarão o deserto, fazendo-o florescer!

É muito doce falar de coisas que nos encantam e uma delas são as figuras de linguagem, muito usadas na Bíblia.

Precisamos voltar ao primeiro amor. Apocalipse 2: 4, adverte: “abandonaste o teu primeiro amor”

Precisamos voltar à alegria pura e singela que tínhamos quando aceitamos a fé.  Davi disse, no Salmo 51:12, “torna a dar-me a alegria da tua salvação”. Neemias escreveu: “Portanto não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força”. Nm.8:10.

O início da nossa caminhada foi, sim, de muito regozijo, mas regozijemo-nos ainda mais, porque “a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”. Rm.13:11.

Precisamos viver como as torrentes no Neguebe: O leito seco se transformando em ribeiro transbordante, impetuoso, porque as chuvas sempre voltam e trazem vida. Então, a tristeza desaparece, dando lugar a alegria que jamais acabará, “quando os resgatados do Senhor voltarão, e virão a Sião com júbilo: e alegria eterna haverá sobre suas cabeças: gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”. Ap. 35:10.

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