Carta à minha mãe, Theresa Duarte de Lima - 1962.
Profa. Maria José de Lima Stevão Mãezinha, neste dia consagrado a ti, eu quero expressar um pouco do meu muito amor, um pouco de minha difícil alma, que nesta hora extravasa de saudade e temor de não poder ver-te, abraçar-te e beijar-te mais uma vez.
Tua figura esguia e gasta pelos anos de trabalhos me vem no coração a ponto de quase ouvir a costumeira frase ao falar comigo: "- Minha filhinha..."
Hoje, crescida, um pouquinho mais experimentada pela vida, ainda não perdi aquela sensibilidade d’alma a teu respeito, e temo o dia de tua partida...sei que estão velhinhos, e que não tens longos anos de vida pela frente. Também não sei se eu hei de viver ainda muito, ou se em breve deixarei estes lidares, mas tudo me leva a crer que irás antes e me deixarás coberta de lágrimas.
Sei que me amas, mãezinha, e do teu amor não ouso duvidar. Oh, se eu pudesse ter vindo antes em tua vida, para que por mais tempo pudesse te acompanhar. Eu estou recém no início da jornada, hoje é que abri os olhos para a vida, e sinto que tu já caminhaste todas as estradas.
Mãe, o teu amor é comparável ao de Deus, pois é santo, e, sobretudo, imutável.
Desde que pela primeira vez vi o teu rosto, até hoje, em que a distância me impede de vê-lo, sei que me amaste todos os dias, e com a mesma intensidade. Soubeste amar-me quando eu fui boazinha e obediente, mas também quando te aborreci e te fiz chorar, e em todo o tempo realmente me amavas.
Amor de mãe é assim... grande... diferente...
Perdoa-me, mãe, se te fui ingrata e saiba que tua Maria te ama.
P.S. "Estive raciocinando e cheguei a conclusão que não foi em 1965 que eu escrevi. No dia 6 de dezembro desse mesmo ano ela faleceu. Tenho quase certeza que foi em 1962, quando estávamos há oito meses em Frederico Westphalen e a saudade era muito grande. Também acho que não enviei essa carta. Foi como aquela do deserto de Saara. Foi só uma reflexão." (em mensagem pessoal para ELLS no dia 02/05/2021)