Texto escrito pelo Pr. Leif Ekström, pastor da Igreja Korskeykan em Fagersta, Suécia (lae@telia.com), no Jornal Luz nas Trevas - Julho de 2019, e transcrito literalmente aqui, sem alterações.
"Existem muitas coisas que passam com o tempo: a dor de cabeça depois de um dia cansativo, o frio e o gelo depois de um longo inverno, o barulho agudo depois de um intenso trovão. Mesmo a tristeza, depois de uma derrota, passa; e até a raiva, mesmo que demore um pouco mais. São coisas que nos machucam, nos entristecem, mas que o tempo cura. Pelo menos, é assim que se diz.
Entretanto, há outras coisas que o tempo não resolve e que não passam nunca: palavras que feriram um coração e que nunca param de remoer na alma; o valor próprio, mortalmente ferido por atitudes de desprezo e grosserias; a autoimagem que nunca se recupera, que não nos permite a libertação; a coragem abatida como um pássado em pleno vôo.
O tempo também não cura a tristeza da perda de um amigo, a dor e a saudade pelo falecimento de um pai, de uma mãe, de um filho ou uma filha; também não sara as marcas de um amor rompido, abandonado e traído. Existem coisas que o tempo não cura, que nunca passam. Coisas que temos que viver, lutar com elas e fazer delas parte de nossas vidas.
Não existe vacina para as coisas que passam; muito menos para as outras, aquelas que nos atingem e que não tem fim. Nem mesmo na fé, ou na Palavra de Deus. Não temos garantias de uma vida isenta de feridas e machucados. Não temos promessas de uma vida em glória e riqueza. Não aqui, não agora, não nessa vida.
Por vezes, penso que vivemos um evangelho superficial, de mentira, que só serve para os dias de sol. Na dor, no sofrimento, na depressão, não temos resposta, nem guarida. Uma fé que se sustenta em minhas forças e em minha convicção não vale nada. Não resiste a menor ventania, quanto menos a um temporal. Uma fé que se baseia em minhas palavras não merece ser escrita, muito menos compartilhada. Uma fé dessa só cria papagaios, reles repetidores que, ao sabor dos ventos, mudam de opinião e de crença.
Para responder àquilo que o tempo não cura, à dor que nunca passa, só a presença do Eterno, só a misericórdia e a graça que não têm fim. Para confrontar as riquezas do abismo, só a profundidade da riqueza de Deus, Seu conhecimento e a Sua sabedoria.
Mas, não! Nem assim o abismo deixa de existir, nem diante do Eterno a dor desaparece. Não aqui, não agora, não nessa vida. O Eterno não nos tira desse mundo, não nos livra da vida que temos que viver. O Eterno estende a mão, caminha ao lado, quer estar conosco todos os dias, pois Aquele que foi obediente até a morte sabe da dor que não passa; Aquele que na cruz se sentiu abandonado, sabe que foi traído por um beijo sabe o que é um amor que se rompe. NEle deposito a minha fé, somente nEle. Não que a minha fé seja forte; mas é tudo que tenho."