Jahdai, recordações que me levaram às lágrimas.
Curitiba, 04 de junho de 2011. Para os alunos do 5° ao 9° ano fundamental.
Precisamente em mil novecentos e cinquenta e oito, há 63 anos, me tornei um missionário na Ilha dos Marinheiros. Comprei um pequeno caíque para fazer a travessia para o continente. Caíque é uma pequena embarcação que tem quilha e não o fundo chato como os barcos à vela. Uma tábua perpendicular de fora a fora, no fundo do barco, dá-lhe maior segurança.
Orei ao Senhor para que me desse um nome para aquele caíque. Orava para que fosse guardado pelo Senhor em minhas travessias pelo mar. Atravessar aquele braço de mar, indo do continente para a ilha e da ilha para o continente, com uma tão pequena embarcação, muitas vezes, não era nada fácil. Então o Senhor colocou em meu coração um nome para meu caíque: Jahdai, aquele que é dirigido pelo Senhor.
As muitas lutas contra as ondas mar entre Rio Grande e a Ilha dos Marinheiros, de dia ou a noite, sempre foram grandes. Atravessei sobre ondas furiosas. Houve ocasião que, amarrando o caíque em meu corpo, atravessei a nado. Numa destas lutas, fiz um hino ao Senhor:
Jahdai, Jahdai, ele singra o mar.
Meu barco é pequeno, bem pequeno no mar,
Meu barco é Jahdai, ele singra o mar.
Hoje, já velho não me lembro de toda a letra, mas da música até consigo lembrar-me. (Eu devo ter uma foto antiga daquele bom caíque...)
Jadai, achei que era um nome bastante significativo. Mas não encontrei entre as famílias evangélicas, alguma que colocasse em um de seus filhos este tão lindo nome, expressando o desejo que aquela criança fosse aquela a quem o Senhor dirige ou aquele que é dirigido pelo Senhor.
Hoje quando li Jadai, o nome de um pastor numa relação de nomes, louvei ao Senhor pela vida dos pais dele, que lhe desejou o melhor que se pode desejar: ser dirigido pelo Senhor nosso Deus! Não pude impedir que meus pensamentos voassem por aqueles idos anos de um jovem missionário na Ilha dos Marinheiros. Como aquelas lembranças fizeram bem a minha alma! Foi como, tantas outras recordações de minha juventude, consagrada ao serviço do Senhor. Lembrei de minha viagem de três dias e três noites, pelo mar, na Companhia Costeira de Navegação, de Santos-SP a Rio Grande-RG. Uma viagem longa, para mim, um jovem sonhador. Isso me levou às lágrimas de gratidão.
Soube recentemente que a Ilha dos Marinheiros é um lugar turístico e de fácil travessia, pois fizerem uma ponte, com base na Ilha da Pólvora, ligando o continente à Ilha. É certo que ninguém que for lá hoje, pensará nos perigos que havia antigamente numa simples travessia. Nas ondas encapeladas, na travessia perigosa do canal, nos assustadores dias de inverno no mar, quando sopra o Minuano. Aquele vento fortíssimo que vem cantando, assobiando pelas árvores, empurrando a todos na cidade, arrastando tudo, elevando, em muito, as ondas do mar.
Os anos passaram, mas não o meu amor ao trabalho do Senhor, no qual ainda por misericórdia continuo servindo, não na Ilha dos Marinheiros, mas em lugares onde tem me permitido ir para servi-Lo e adorá-Lo, com meu trabalho.
Gilberto Stevão - Um servo de orelha furada.
P.S.: Memória do meu pai quando ele era um missionário ainda muito jovem, 20 anos de idade, na Ilha dos Marinheiros no Rio Grande do Sul. A foto perdida em algum lugar foi encontrado e está postada aqui para memória. "Muito bem servo bom e fiel..." certamente será dito à sua orelha furada. (ELLS)