terça-feira, 12 de maio de 2009

O FALSO EVANGELHO DA PROSPERIDADE

Há uma coisa mal cheirosa no “Evangelho da Prosperidade”, pregado pela grande maioria dos pastores, apóstolos, bispos - e se como não bastasse esses títulos, todos humanos, até parece que em breve veremos alguns reivindicarem para si, os cognomes querubins e serafins; homens ávidos de poder humano - e também uma diferença abissal entre o próprio Deus encarnado, Cristo Jesus, que é a essência do próprio Evangelho.

Peço encarecidamente que caminhe junto comigo. Vejamos o que diz Lucas 2:6-7
“Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.”

O autor Phillip Keller descreve a noite do nascimento de Jesus Cristo de uma forma criativa, e quem sabe real: “O curral de ovelhas, malcheiroso como somente um confinamento de animais do Oriente poderia ser, cheirava a esterco e urina acumulados durante anos. José limpou um espaço suficiente para que Maria se deitasse. As dores do parto haviam começado. Ela se contraía em angústia no chão. José, com toda a inexperiência e o desconhecimento típicos de um homem, fazia o que poderia para confortá-la. A túnica exterior dele seria a cama dela, e o alforje que levava seria seu travesseiro. Não havia palha, feno ou forragem. Essas coisas não eram abundantes naquele país. O pequeno estoque viera da vegetaçào esparsa que havia naquele terreno semidesértico. Maria gemia e suspirava na escuridão do abrigo de ovelhas. José limpou o pó e a sujeira de um pequeno espaço de uma das manjedouras de pedra calcária escavadas à mão. Arrumou um lugar onde Maria pudesse colocar o recém-nascido enrolado nos panos que trouxera. E ali, sozinha, sem ajuda, sem esstrangeiros ou amigos para testemunhar seu sofrimento, na escuridão, ela teve seu filho. Foi uma entrada despretensiosa, a entrada no palco do Filho do homem – o Filho de Deus, o próprio Deus em forma humana – no palco da terra.”

Por que Deus Pai quis assim? Por que tanta pobreza, para não dizer miséria? Eu não compreendo, mas só sei que Ele me amou integralmente nessa simplicidade toda, para que eu não quisesse almejar ser poderoso em riquezas humanas. É uma inversão total de valores que precisamos aprender diariamente.

Certamente que Jesus Cristo deixou de lado o justo direito de divindade para tornar-se uma das pessoas menos privilegiada, nascida entre os mais pobres dos pobres. Essa entrada humilde no mundo caracterizaria o restante de seus dias na terra, e ilustraria a diferença entre seu reino e a idéia mundana de poder, autoridade, riqueza e privilégios.
Fico triste, porque é possível notar que poder, autoridade, riqueza e privilégio é tudo o que a igreja professante de Jesus Cristo está buscando, principalmente as denominações mais fortes. Que paralelo enorme! Hoje, igreja com várias congregações é sinônimo de poder. Mas que poder é esse? Poder do Espírito Santo? Poder divino ou humano? A quem estão recorrendo?
De forma contundente, vejo uma semelhança entre a simplicidade de Jesus Cristo, o próprio Deus, com seu apóstolo, o miserável – assim mesmo se considerava - homem Paulo de Tarso. Vamos ler em Atos 20:33 o que ele menciona: “Não cobicei nem a prata, nem o ouro, nem as roupas de ninguém. Pelo contrário, vocês sabem que eu trabalhei com as minhas próprias mãos e consegui tudo o que eu e os meus companheiros de trabalho precisávamos. Em tudo tenho mostrado a vocês que é trabalhando assim que podemos ajudar os necessitados. Lembrem das palavras do Senhor Jesus: É mais feliz quem dá do que quem recebe."

Algo por demais me impressiona no texto de Mateus 12:1 que diz assim: “Poucos dias depois, num sábado, Jesus estava atravessando uma plantação de trigo. Os seus discípulos estavam com fome e por isso começaram a colher espigas e a comer os grãos de trigo.” Como os discípulos do Deus altíssimo poderiam passar fome? Jesus não se importava? Por que ele não pedia dinheiro, dízimo ou ofertas para ele, para sustentar seu ministério? Creio que muitas pessoas davam ofertas voluntárias para Jesus e seus discípulos e foi assim que viveu.
Até parece que é possível escutar o eco das paredes frias dos templos evangélicos: "Mas quem quer seguir a um Jesus pobre, palpérrimo, que não dá prestígio entre os homens? Vamos pregar a prosperidade e dizer que as ovelhas 'precisam' resgatar tudo aquilo que é de direito delas, tudo o que Cristo comprou na cruz do Calvário!" Que triste e enganosa confusão! Sabe, acho sinceramente que não temos direito algum. Aliás, temos sim, temos o direito de não ter direito, qualquer que seja.

No dia de palmas (ramos), Jesus entrou em Jerusalém cavalgando sobre um filhote de jumenta, conforme está escrito em Mateus 21:7 "Trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima", cumprindo a profecia de Zacarias: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e salvo, pobre, e montado sobre um jumento, e sobre um jumentinho, filho de jumenta". (Zacarias 9:9 - ênfase minha). Essa simplicidade não interessa aos líderes da igreja de hoje como também não interessou aos sacerdotes e religiosos da época. "É muita pobreza para aceitar, diriam alguns!" Quem sabe o melhor seja andar de carro novo ou limosine, como alguns líderes "evangélicos" norte-americanos, entre eles Benny Hinn!


Em Marcos 6:7-10, Jesus envia os seus 12 discípulos. Veja o texto abaixo: “Chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos; E ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho, senão somente um bordão; nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto; Mas que calçassem alparcas, e que não vestissem duas túnicas. E dizia-lhes: Na casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali.” Esse é o comissionamento dos discípulos para irem pregar e não vejo aqui nenhuma ordenança para montarem igrejas e pedirem dízimos, nem mesmo ofertas.
Há uma onde de cópia entre as igrejas. É como uma espécie de sequência de marolas evangélicas. O que uma começa a fazer ou pregar, logo a próxima segue desesperadamente para não perder fiéis.

Olhando para o ministério de Paulo, que tinha a firme convicção que era apóstolo por chamado direto pelo Cristo, não coloca como centro de suas referências os outros apóstolos, ou o que a igreja de Jerusalém estava fazendo, mas sim Jesus Cristo vivo. Para Paulo, Jesus não era um personagem histórico, que deve ser lembrado, que fez milagres e ressuscitou, mas um Poder presente e atuante, conforme está em 2 Coríntios 5:16 “Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo.”
Por isso, Jesus não pode ser apenas o conteúdo da pregação da igreja de hoje, mas é o verdadeiro fundamento da Igreja, conforme 1 Coríntios 3:11 “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” Ele é a cabeça que dirige os fiéis, seus membros (ver 1 Coríntios 11:3; Colossenses 1:18; 2:19).
Sendo assim, isso significa dizer que a Igreja está fundamentada em Cristo. A partir da convicção de que Cristo é o fundamento da Igreja, os apóstolos devem ser avaliados sob uma nova perspectiva. Eles não aparecem mais como líderes autônomos da Igreja, mas como instrumentos, como servos, como anunciadores e mensageiros de Cristo (ver 1 Coríntios 3:5; 4:1-3; 2 Coríntios 5:20; 6:4). E assim devem ser também os pastores da igreja atual.
Novamente em Lucas 22:35, Jesus envia seus 70 discípulos e da mesma maneira que comissiona seus 12 discípulos, o faz para esses. Veja o texto: "Quando vos enviei sem bolsa, sem alforge, sem sapatos, faltou-vos alguma coisa? Disseram eles: nada."
Um aspecto essencial desse sentido se encontra certamente na exigência de uma atitude de absoluta confiança e entrega pessoal à Providência de Deus que cuidará e proverá tudo o que for necessário. É a fé em ação e não a pedinça aos homens para fazer a obra de Deus. Essa atitude contraria o formato de Deus para se ganhar almas, pois é no poder dele e não no nosso poder financeiro. A obra é dele, não minha, não sua. Creia nisso, Ele está mais interessado do que você na sua própria obra.
Já ouvi dizerem: “Se não tivéssemos pedido até hoje e forçado as pessoas a contribuírem, ninguém daria nada, a igreja não estaria onde está e não teríamos um templo novo, belo e formoso.” Primeiro que isso é uma mentira de satanás porque quem ama a Jesus Cristo continui e nunca deixará de dar por amor a Ele. Mas é essa fala e atitude que me preocupam. Será que não dando um formato humano para a Igreja de Cristo? Será que a igreja está trilhando por caminhos de servidão, amparo e amor - exemplo encontrado em Jesus - e rumando para onde ela tem sido chamada a ir? Não está sendo pregada a liberdade em Cristo Jesus!
Olhemos para o texto de Atos 15. Ali lemos que Paulo e Barnabé compareceram em Jerusalém para uma reunião, representando a comunidade de Antioquia e juntos com Pedro defenderam a liberdade dos gentios. No final desse encontro ficou decidido que os gentios deviam estar isentos da lei de Moisés e que os cristãos da Síria e Silícia deveriam abster-se de algumas coisas. Essa fala foi dada por Tiago, que tomando a palavra disse o seguinte: “Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias. Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição; e destas coisas fareis bem de vos guardar.” Portanto, essa sua decisão não era promulgada em virtude da Lei de Moisés mas em nome do Espírito Santo.
O apóstolo Paulo recebeu ajuda e oferta das igrejas, mas isso era resultado de seu trabalho e não objetivo dele: “Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente a vossa conta” (Filipenses 4:17). Também quando esteve em Corinto, o apóstolo Paulo teve as suas necessidades pessoais supridas, mas nunca pediu nada a nenhum dos irmãos daquela cidade.
Que maravilhoso exemplo nos deixou o apóstolo Paulo. Que sirva a todos nós de alvo para imitarmos, assim como ele mesmo imitou a Cristo.
Escrito e publicado por Éber Stevão

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